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Poema – Dois poemas desconexos de um eu lírico comum

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Dois poemas desconexos de um eu lírico comum

(Anônimo)

1

Talvez eu sinta tudo
sempre em demasia, 
mas tudo bem.
Não preciso me desculpar
por ter um coração que existe tão excessivamente.

2

Eu chego em casa
Sozinho
Depois de mais um dia na faculdade
E janto um pacote de miojo.
Eu alongo meu pescoço
E ele estala, depois de tanto olhar para baixo.
Eu pondero entre mais horas de leitura
Do que eu já passo tanto tempo estudando
E um episódio de uma série qualquer.

Tem dias que eu suspiro e penso
Que não era assim que eu imaginava que seria minha vida aos vinte e poucos anos
Mas tem outros em que eu sorrio
Sabendo que podia ser muito pior.

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Poema – Poema sem Backup ou A Estranha Tristeza de Formatar meu Computador

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Poema sem Backup ou A Estranha Tristeza de Formatar Meu Computador

(por Antonio Vianna)

“Are you sure?
Yes No” – Windows Restore Center

Adeus aos meus arquivos,
aos meus dias.
Meu passado se vai nas partições em chamas.
Este programa deletará todos os seus arquivos pessoais
e retornará o sistema às configurações de fábrica.
Você tem certeza?

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Cult.: ~sem título~

Vai, menino,
Fazer Pediatria.
Vai tratar tosse,
Calcular hidratação,
Vai conferir as doses de vacina,
Prescrever Penicilina,
Ou escolher alguma Cefalosporina
De terceira geração.
Vai, meu amigo,
Trabalhar muito e sempre e todo dia,
Vai dar consulta,
Vai fazer plantão,
Passar a noite acordado,
Atendendo resfriado,
Não custa nada,
Ou quase nada, acredite,
Pelo menos pro bolso do teu patrão.
Vai, garoto,
Vai dar duro,
Vai cuidar de prematuro,
Falar de amamentação.
Vai, menino,
Com persistência,
Com paciência,
Com overdose de abnegação,
Sem esperar reconhecimento,
Vai trabalhar só pro teu sustento
E pra tua própria satisfação.
Vai, tonto,
Fazer Pediatria,
Vai diagnosticar apendicite,
Reconhecer rapidamente a difteria,
Vai aprender a tratar infecção.
Cuidar de criança com febre,
Cuidar de criança com gastrenterite,
Cuidar de criança com convulsão.
Vai pra batalha,
Mas vai preparado:
Um pequeno deslize,
Tudo errado…
Qualquer engano,
Grande confusão…
Não há lugar para falha ou distração.
Vai, teimoso,
Fazer Pediatria,
O teu destino está na tua mão.
Tu poderias
Fazer Endoscopia,
Neurocirurgia,
Cuidar dos males do coração.
Ou porque não
Tentar Nutrologia,
Dermato, Fisiatria,
Especializar-se em Doenças do Pulmão.
Mas por descuido do teu anjo guia,
Ou por defeito de fabricação,
Por insistência, por teimosia,
Por desacerto ou por distração
Escolheste fazer Pediatria.
Vai em frente.
Honra com fé a tua decisão.
Leva o bom senso como companhia.
Faz do trabalho a tua obrigação.
Mas não te assustes
Se qualquer dia,
Por arrogância,
Por prepotência,
Ou por qualquer outra disritmia,
Te ameaçarem com Ordem de Prisão.
Custa um leão por dia a tua liberdade.
Não abre mão, porém, da tua dignidade.
Não cede um palmo da tua convicção.
Esquece o dano.
Lembra-te do soldado iraquiano
Lutando contra um gigante,
E segue adiante,
Sempre radiante,
Sempre na mão.
E ainda que a febre não abaixe,
E o dado clínico não se encaixe,
E o resultado do exame só aumente a indecisão,
E ainda que o cliente nunca volte,
E ainda que o cinismo nunca falte,
E ainda que te ofendas
Quando um dia sem motivo te chamarem de furão,
Não desanimes.
A fibra e a persistência não são crimes.
Nem é pecado a obstinação.
Vai menino.
A tua vocação é a chave que te solta.
Segue portanto a fazer Pediatria.
Mas segue sempre adiante.
Vai.
Não volta.
Porque não há retorno
Para os Caminhos
Do Coração.

(Iná Cabral Arthur)